Estamos aqui para resolver ou para brigar - segundo artigo

Partidos Puros Não Existem – segundo artigo da série: Estamos aqui para resolver ou para brigar,

Inexistem políticos confiáveis e não é diferente com os partidos. Não há partidos puros e confiáveis. Se você tem um, a gente vai se unir para colocar este partido no poder e não temos mais porque discutirmos. O problema é que os partidos se formam para abocanhar as fatias generosas do fundo partidário e para abrigar candidatos nanicos e até notáveis, que não têm voz nos grandes partidos. Regra geral trata-se de um agrupamento de pessoas interessadas em se notabilizar e se viabilizar politicamente, no mais das vezes, com a nítida intenção de conseguir grana fácil, durante as manipulações políticas, vendendo apoios e achacando empresas, na busca de doações, prometendo compensações depois das eleições.

A estrutura partidária brasileira é vergonhosa e grande parte da culpa é do TSE que não investiga a vida pregressa dos integrantes das agremiações e que não exige planos de governo bem elaborados e críveis ou passíveis de execução real. Outra motivação para o surgimento de partidos é a gana setorial ou segmentária que quer alcançar representatividade para defender pontos específicos.

É o caso da bancada da bala, da bancada evangélica e a do agronegócio. Não há uma preocupação com o país, mas com algum setor específico. A bancada da bala é contraponto aos Direitos Humanos, a bancada evangélica é contraponto às liberdades individuais por parte das minorias e a bancada do agronegócio é contraponto à reforma agrária. Fora isso, muitos lobbys usam parlamentares e partidos para emplacarem vantagens aos seus negócios e interesses. A maior parte dos partidos é responsável pela sonegação de impostos, pelo déficit da previdência, pelo calote aos bancos públicos e até mesmo pelo atraso nas reformas reais e pela concentração exagerada de renda.

Os partidos são como facções e funcionam como bichos predadores diante das verbas e da distribuição destas no atacado e no varejo das três esferas de governo. Eles rastreiam o dinheiro público, desde a área federal, passando pela esfera estadual indo até os municípios, mesmo os mais pobres e necessitados. Fossem os partidos e os políticos algo do bem e decerto todos os setores sociais estariam, senão melhores, mas beirando à perfeição quanto ao funcionamento e ao retorno entregue aos cidadãos comuns. Falam-se muito de violência, de bandido, mas quase ninguém nota que esse tipo de violência e de bandidagem é ignorado pelo aparato policial, investigativo e punitivo. Ao contrário, muitos agentes que os deveriam combater se beneficiam dos respingos das falcatruas ocorrentes. Outra barbaridade é o conjunto de nomeações sem critério meritório, tão somente para abrigar políticos em cargos para os quais não possuem competência. Estes são dilemas políticos que a população não enxerga e que dão muito prejuízo à nação.

Há também os partidos ditos ideológicos que parecem fugir à regra, contudo bastante semelhantes, causando confusão nos diferentes modos de percepção politica da população, o Brasil de agora vive uma guerra opinativa ideológica sem sentido, porque o Brasil não possui um partido genuinamente de Esquerda, embora quase a totalidade defenda tópicos exclusivamente de Direita. Mas, como disse no artigo de ontem, nenhum politico ou partido consegue governar sozinho este país, na prática, ingovernável e então, pelo leque de alianças que a Esquerda faz, suas pretensões ficam muito aquém e seus pactos de governabilidade não são radicais, além de não avançarem nos itens que uma Esquerda decente e dignificante avançaria. Dizer, por exemplo, que o PT é um partido de “esquerdopatas” é o mesmo que dizer que farinha é o mesmo que talco.

Nunca o Brasil teve e irá demorar muito a ter um governo de Esquerda, porque a classe média brasileira é direitista e forma opinião e é o fiel da balança para que as propostas de Direita sobressaiam mais do que as de Esquerda. As pessoas repetem conceitos e chavões sobre ideologias sem compreender que as ideologias estão mortas, restando apenas duas margens políticas que são a inclusiva e a excludente, como destacou Paulo Freyre. Por causa dessa confusão é que se veem pessoas de bem defendendo pontos de vista que versam contra si e contra pessoas de quem gostam, como é o caso de gays, negros e mulheres que apoiam determinado candidato para as próximas eleições, mesmo sabendo que ele debocha e desrespeita suas condições ou pessoas que defendem o extremismo ditatorial sem compreender que A Democracia pressupõe que o povo escolha seus representantes livremente, porque é melhor escolher mal do que perder o direito de escolher.

Assim e por isso destaco algumas questões para facilitar o que se deve defender ou discordar, independentemente de ideologias. Vamos às questões:

01) Você considera que negros, mulheres, pobres, estrangeiros, indígenas, quilombolas, caipiras, gays, travestis, refugiados, transexuais, bissexuais, heterossexuais, cadeirantes, gente com qualquer necessidade especial, analfabetos, gente ribeirinha, de todas as regiões do Brasil e do mundo merecem uma vida decente e merecem experimentar bem estar na vida? Se você considera é porque é um ser político consciente e responsável e vai deixar de ressoar discursos contrários à inclusão. Não quer dizer que você seja de Esquerda, Centro ou Direita, que você seja favorável a Lula e contra Moro ou vice e versa, mas quer dizer que você está e é consciente sobre porque deve lutar. Essa definição é mais importante do que você ter um lado político, indica que você tem um lado Político com pê maiúsculo e somente essa postura merece sua fidedignidade, O contrário é politicagem, torcida, ilusão de que você está participando social e politicamente das necessidades do país, mas o grande avanço humanitário indica que você deve primeiro descobrir o que você quer que aconteça aos grupos menos favorecidos, aos mais frágeis e aos mais necessitados de oportunidades, sob o guarda chuva permanente da sociedade.

02) Você considera que a violência é algo preocupante e que a bandidagem é resolvida com pena de morte ou com a polícia matando, a torto e a direita ou você acredita que uma boa base social eliminaria futuros bandidos com muito mais eficiência? É possível entregar aos militares a função estratégica de eliminar bandidos, em vez de os capturarem e de os prenderem? Se sim, o que você pensa sobre as penitenciarias e seu funcionamento, no qual, a bandidagem se gradua? Parece que a luta não é para ver bandido morto, mas para ver a sociedade tendo competência para reeducar e recuperar criminosos. Se você começa a ver mais tortuosidade na funcionalidade do Estado do que nos efeitos que este mesmo Estado causa, você deixa de reverberar chavões cruéis e indelicados sobre a violência e começa a perceber melhor o que de fato precisa ser remodelado e transformado. Ou o Estado cuida de fato ou sofre as consequências. Portanto, ser inclusivo é o mesmo que aprender a ler nas entrelinhas, os problemas como são e não como parecem.

03) O problema de habitação eleva o número de favelas, de desemprego e de pessoas que se desviam do bem. Pouca gente entende que isso tem a ver com a falta de um Reforma agrária bem planejada, pela qual, a concentração de terras dê lugar a pequenos minifúndios em que pessoas do campo sobrevivam do próprio suor. Todo o mundo civilizado passou por uma reforma agrária rígida e justa. A não reforma agrária brasileira está ligadoa à questão do agronegócio que dilapida as terras, destrói as oportunidades dos pequenos agricultores e ainda por cima sonega impostos em muitos âmbitos arrecadatórios. Defender a Reforma Agrária não é uma questiúncula de esquerdistas radicais, embora eles deem a cara para bater, mas sim é uma conduta inclusiva que ajudaria e muito a fazer o país mais justo, com menos violência no campo e nas favelas, porque o êxodo rural afracaria. Antes de falar sobre o que não compreende todos deveriam se responder sobre o que defende e apoia.

04) A infraestrutura não é vista com olhos críticos e é por isso que as estradas demoram décadas para serem duplicadas e melhoradas. Os problemas da seca e das enchentes são administrados com descaso e as pessoas não vão às ruas por causa disso, deixam que estes males se perpetuem. Existem milhões de desempregados no país e estes não se organizam para protestar. O sistema de saúde é precário, e os pacientes não se indignam. Mas para protestar contra o que a mídia elege como um problema, muitos vão e não percebem que a luta é muito mais evidente quando o alvo é a ineficiência do Estado. Um político em particular ou um partido, ou até mesmo a corrupção são somente partes dos problemas. A real luta é contra um Estado que exclui pessoas dos benefícios essenciais a que têm direito. Se você começa a reagir com indignação pelas causas de exclusão, certamente se tornará uma pessoa muito mais coerente do que se retirar parte do seu tempo para defender ou odiar este ou aquele político ou governo. A luta por justeza social tem de ser ampla e irrestrita. Não sendo assim é parcialmente válida e sendo parcialmente válida é, no mínimo, ineficaz e, no máximo, nula.

Amanhã falaremos de governabilidade.